Filosofia

O que é Estoicismo? O segredo de uma vida simples e feliz?

O que é estoicismo? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem quando se deparam com essa palavra, que parece tão distante da nossa realidade atual. No entanto, o estoicismo é uma filosofia de vida que pode nos ajudar a lidar com os desafios, as dificuldades e as emoções que enfrentamos no dia a dia. Neste artigo, vamos explicar o que é estoicismo, quais são os seus princípios básicos, as suas características e ensinamentos, a sua história e as suas fases, a diferença entre estoicismo e epicurismo, os principais filósofos estoicos e como se tornar estoico e o que significa ser estoico nos dias de hoje.

O que é estoicismo?

O estoicismo é uma escola filosófica que surgiu na Grécia Antiga, no século III a.C., e se desenvolveu em Roma, no século I d.C. O nome estoicismo vem do grego stoa, que significa pórtico, pois os primeiros estoicos costumavam se reunir em um pórtico em Atenas para discutir sobre filosofia. O fundador do estoicismo foi Zenão de Cítio, um comerciante que se interessou pela filosofia após perder toda a sua fortuna em um naufrágio.

O estoicismo é uma filosofia prática, que visa orientar as pessoas a viverem de acordo com a razão, a virtude e a natureza. Os estoicos acreditavam que o universo é governado por uma ordem racional e divina, chamada de logos, e que o ser humano faz parte dessa ordem. Portanto, o objetivo do estoico é viver em harmonia com o logos, aceitando tudo o que acontece como parte de um plano maior e buscando agir de forma sábia, justa, corajosa e moderada em todas as situações.

Os princípios básicos do estoicismo

O estoicismo se baseia em três áreas principais de estudo: a lógica, a física e a ética. A lógica trata da forma como devemos usar a razão para compreender a realidade e tomar decisões. A física trata da natureza do universo e do nosso lugar nele. A ética trata da forma como devemos viver para alcançar a felicidade e a virtude.

A ética é a parte mais importante e prática do estoicismo, pois define os valores e as atitudes que devemos ter para viver bem. Os estoicos defendiam que a felicidade não depende das coisas externas, mas sim da forma como lidamos com elas. Para os estoicos, as coisas externas são indiferentes, ou seja, não são nem boas nem más em si mesmas, mas apenas oportunidades para exercermos a nossa virtude ou o nosso vício. A virtude é o único bem verdadeiro, pois é o que nos permite viver de acordo com a nossa natureza racional e social. O vício é o único mal verdadeiro, pois é o que nos afasta da nossa natureza e nos torna escravos das paixões.

Os estoicos propunham um exercício mental chamado de dicotomia do controle, que consiste em distinguir entre o que está sob o nosso controle e o que não está. Segundo os estoicos, só está sob o nosso controle a nossa vontade, ou seja, as nossas opiniões, os nossos julgamentos, as nossas decisões e as nossas ações. Tudo o mais está fora do nosso controle, como os acontecimentos externos, os bens materiais, a saúde, a fama, o poder e a opinião dos outros. Os estoicos ensinavam que devemos focar apenas no que está sob o nosso controle e aceitar com serenidade o que não está. Assim, evitamos sofrer por coisas que não podemos mudar e nos tornamos mais livres e felizes.

As características e ensinamentos da filosofia estoica

O estoicismo é uma filosofia caracterizada pela racionalidade, pela simplicidade, pela autodisciplina
e pela resiliência. Os estoicos buscavam desenvolver essas qualidades através de exercícios mentais e físicos, como a meditação, a reflexão, a leitura, a escrita, a oração, o jejum, a abstinência e a exposição controlada às adversidades. Os estoicos também se inspiravam em exemplos de pessoas virtuosas, como Sócrates, Catão, Marco Aurélio e Epicteto.

Alguns dos ensinamentos mais famosos e úteis do estoicismo são:

  • “Não se perturbe com o que parece ser o mal, mas examine-o de perto e você verá que nada é tão ruim quanto parece.” (Epicteto)
  • “Não é o que acontece com você, mas como você reage ao que acontece com você que importa.” (Epicteto)
  • “A felicidade não consiste em ter mais, mas em precisar de menos.” (Sêneca)
  • “A morte não é nada terrível, pois se é terrível não é morte; e se é morte não é terrível.” (Sêneca)
  • “A melhor vingança é não ser como aquele que te feriu.” (Marco Aurélio)
  • “Tudo o que acontece é tão natural e familiar quanto uma rosa no verão ou uma colheita no outono.” (Marco Aurélio)

A história e as fases do estoicismo

O estoicismo pode ser dividido em três fases principais: o estoicismo antigo, o estoicismo médio e o estoicismo novo.

O estoicismo antigo foi a fase inicial do estoicismo, que durou do século III a.C. ao século II a.C. Os principais representantes dessa fase foram Zenão de Cítio, Cleanto de Assos e Crísipo de Solis. Eles desenvolveram os fundamentos da lógica, da física e da ética estoicas, bem como as noções de logos, natureza, virtude, indiferença e controle.

O estoicismo médio foi a fase intermediária do estoicismo, que durou do século II a.C. ao século I d.C. Os principais representantes dessa fase foram Panécio de Rodes, Posidônio de Apameia e Cícero. Eles adaptaram o estoicismo às novas circunstâncias históricas e culturais, introduzindo elementos da filosofia platônica e aristotélica. Eles também enfatizaram mais a dimensão social e política da ética estoica, bem como as noções de dever, lei natural e humanidade.

O estoicismo novo foi a fase final do estoicismo, que durou do século I d.C. ao século III d.C. Os principais representantes dessa fase foram Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio. Eles se concentraram mais na aplicação prática da ética estoica à vida cotidiana, oferecendo conselhos e exemplos de como lidar com as emoções, as adversidades, a morte e a felicidade. Eles também popularizaram o estoicismo entre as massas, através de cartas, diálogos, manuais e meditações.

A diferença entre estoicismo e epicurismo

O estoicismo e o epicurismo são duas escolas filosóficas que surgiram na Grécia Antiga e que tinham como objetivo principal ensinar o caminho para a felicidade. No entanto, elas tinham visões diferentes sobre o que é a felicidade e como alcançá-la.

O epicurismo foi fundado por Epicuro de Samos, no século IV a.C.. Para os epicuristas, a felicidade consiste em viver com prazer, entendido como a ausência de dor física e de perturbação mental. O prazer é o bem supremo e o critério para julgar todas as coisas.

Para os epicuristas, o universo é composto de átomos que se movem ao acaso no vazio. Não há nada de divino ou de racional na natureza. O destino não existe e a morte é o fim de tudo. Por isso, devemos aproveitar a vida enquanto podemos, buscando os prazeres simples e moderados que nos trazem tranquilidade.

Os epicuristas valorizam a amizade, a liberdade, a autossuficiência e o conhecimento. Eles evitam os prazeres excessivos e artificiais que causam dependência e sofrimento. Eles também evitam as paixões violentas que perturbam a alma. Eles se afastam da política, da religião e da vida pública, preferindo viver em comunidades isoladas e pacíficas.

O estoicismo, como vimos, tem uma visão diferente do epicurismo. Para os estoicos, a felicidade consiste em viver de acordo com a natureza, ou seja, em harmonia com a razão universal que governa o universo. O prazer não é um bem em si mesmo, mas um indiferente, que pode ser bom ou mau dependendo do uso que fazemos dele.

Para os estoicos, o universo é regido por uma lei natural divina e racional, que determina o destino de todas as coisas. Há um propósito e uma ordem em tudo o que existe. O ser humano deve aceitar esse destino com resignação e confiança. A morte não é o fim de tudo, mas uma transição para outra forma de existência.

Os estoicos valorizam a virtude, a razão, a ética e a sabedoria. Eles evitam os vícios, as paixões, os desejos e as emoções negativas que nos afastam da razão. Eles também se envolvem com a política, a religião e a vida pública, buscando cumprir o seu dever como cidadãos do mundo.

Principais filósofos estoicos

O estoicismo se desenvolveu ao longo de quase seis séculos, desde o seu surgimento na Grécia até o seu declínio em Roma. Durante esse período, vários filósofos contribuíram para o aprimoramento e a difusão da doutrina estoica. Alguns dos mais importantes foram:

  • Cleantes de Assos: sucessor de Zenão como líder da escola estoica, escreveu um famoso “Hino a Zeus”, no qual exalta a ordem e a harmonia do universo.
  • Crisipo de Soli: considerado o segundo fundador do estoicismo, sistematizou e ampliou os ensinamentos de Zenão e Cleantes, especialmente na física e na lógica.
  • Panécio de Rodes: introduziu o estoicismo em Roma e influenciou o pensamento de Cícero, o maior orador romano. Reformulou alguns conceitos estoicos, como o papel das emoções e dos deveres sociais.
  • Posidônio de Apameia: discípulo de Panécio, foi um grande erudito e mestre de vários políticos e intelectuais romanos. Desenvolveu uma teoria psicológica que relacionava as emoções com o corpo e o cérebro.
  • Sêneca: filósofo, escritor e estadista romano, foi tutor e conselheiro do imperador Nero. Escreveu várias obras sobre ética, política e moral, destacando-se as suas cartas a Lucílio e os seus diálogos sobre a ira, a clemência, a brevidade da vida etc.
  • Epicteto: escravo grego que se tornou um renomado professor de filosofia em Roma e depois na Grécia. Suas lições foram registradas por seu discípulo Arriano, nos livros “Encheiridion” (Manual) e “Diatribes” (Discursos), que são considerados clássicos do estoicismo.
  • Marco Aurélio: imperador romano e filósofo estoico, escreveu as suas reflexões sobre a vida, a morte, a virtude e o destino no livro “Meditações”, que é uma das obras mais lidas e admiradas da filosofia antiga.

Como se tornar estoico?

Para se tornar estoico, é preciso praticar uma série de exercícios mentais e físicos que visam fortalecer o nosso caráter e nos preparar para enfrentar as adversidades da vida com calma e dignidade.

Alguns desses exercícios são:

  • A meditação: consiste em refletir sobre os nossos atos, os nossos deveres, os nossos valores e os nossos objetivos, buscando corrigir os nossos erros e melhorar as nossas virtudes.
  • A premeditação dos males: consiste em imaginar antecipadamente as situações difíceis ou desagradáveis que podemos enfrentar no dia a dia, como a perda de um ente querido, uma doença grave, uma ofensa ou uma injustiça, e pensar em como reagiríamos de forma racional e virtuosa diante delas.
  • A autocontenção: consiste em evitar os excessos e os vícios que podem prejudicar a nossa saúde física e mental, como o consumo de álcool, drogas, comida ou sexo. Também envolve praticar voluntariamente alguma forma de privação ou desconforto, como jejuar, dormir no chão ou usar roupas simples, para nos acostumarmos a viver com pouco e não dependermos das coisas externas para sermos felizes.
  • A gratidão: consiste em reconhecer e valorizar tudo o que temos de bom na vida, como a família, os amigos, a saúde, o trabalho, a natureza e até mesmo as dificuldades, que podem ser vistas como oportunidades de aprendizado e crescimento.
  • A generosidade: consiste em compartilhar os nossos bens materiais e espirituais com os outros, ajudando-os nas suas necessidades e contribuindo para o bem comum. Também envolve perdoar as ofensas e tratar todos com respeito e benevolência.

O que significa ser estoico nos dias de hoje?

Ser estoico nos dias de hoje significa aplicar os ensinamentos dos antigos filósofos à nossa realidade atual, buscando viver de forma simples, consciente, ética e feliz.

Significa também ter uma atitude positiva diante dos problemas e desafios que enfrentamos na nossa sociedade moderna, como o estresse, a ansiedade, a depressão, a violência, a corrupção, a poluição, a desigualdade e a pandemia.

Significa ainda ter uma visão ampla e universal da vida, reconhecendo que somos parte de um todo maior e que estamos conectados com todos os seres vivos. Significa respeitar as leis da natureza e cuidar do nosso planeta, que é a nossa casa comum.

Ser estoico, enfim, significa buscar o equilíbrio entre a razão e a emoção, entre o individual e o coletivo, entre o passado e o futuro, entre o ser e o ter. Significa ser livre, sábio e feliz.

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